Akhenaton (c. 1353 a 1335 a.C.) fundou uma nova cidade na localidade que hoje é conhecida como Tell el-Amarna, no Médio Egito, situada a quase 500 quilômetros ao norte de Tebas. Para isso foram necessários 12 anos de trabalho. Os limites da nova capital, marcados por uma série de estelas exibindo a imagem da família real, se estendiam por mais de 13 quilômetros. Um destes marcos, que estabelecia o limite entre a cidade e sua zona rural, é formado por um relicário talhado na rocha, numa encosta escarpada, tendo a um lado a estela com seu texto. O topo da estela tem um relevo do faraó e da rainha venerando o disco solar. A seu lado estão as estátuas de ambos, também cavadas na rocha, cujos braços fazem gestos diferentes, possivelmente de adoração e oferenda. Estas estátuas estão acompanhadas de figuras bem menores de filhas do casal.
A cidade foi batizada de Akhetaton, ou seja, Horizonte de Aton ou O Lugar da Glória Efetiva de Aton. O faraó mandou construir em solo virgem, não contaminado por qualquer presença anterior de pessoas e dos seus deuses. Capital efêmera e residência real durante grande parte do reinado do faraó que a criou, foi o centro da nova religião estatal introduzida naquele período. Era formada por duas grandes zonas, a norte e a sul, separadas pelo centro urbano onde se encontrava o grande palácio real, a moradia do rei, a zona de comércio e, principalmente, dois templos de Aton. Os nobres e funcionários acomodaram-se em grandes propriedades rurais criando uma espécie de cidade-jardim. Até os arrabaldes dos trabalhadores estavam formados por ruas bem alinhadas, com casas pequenas, limpas e uniformes. A cidade era atraente e planejada para integrar-se à natureza.
Entretanto, não se sabe exatamente porque foi escolhido aquele local específico, uma vasta baía na margem oriental do Nilo. O lugar estava limitado a leste pela forma aproximadamente semicircular de uma cadeia de montanhas rochosas e talvez tenha sido esse aspecto da paisagem, semelhante a um enorme hieróglifo que designa horizonte, como este que vemos acima, uma das razões da escolha do local. As falésias da montanha oriental foram reservadas para a instalação dos túmulos dos cortesãos. Para a tumba rupestre do faraó foi destinado um local situado entre as montanhas do horizonte, o mais afastado possível na direção do sol levante. O rei fez promessas repetidas e solenes de jamais abandonar a cidade, o que realmente ocorreu.
Após informar que a baía tem 10 km de comprimento por 5 km de largura, mas a cidade em si ocupa apenas a zona mais próxima do rio, o arqueólogo John Baines assim descreve Akhetaton: A sua parte central, a mais importante, compreendia o Per- -Aton-em-Akhetaton ("o Templo de Aton em Akhetaton"), conhecido por "Grande Templo", e o edifício oficial do estado, "o Grande Palácio". As partes principais deste último eram as seguintes: (1) os "aposentos oficiais", constituídos por uma série de pátios e salas com colunas e construídos em pedra, (2) o "harem", com os aposentos dos criados anexos e (3) a chamada "sala da coroação". A residência particular de Akhenaton ficava do outro lado da rua e estava ligada ao "Grande Palácio" por uma ponte. Ali perto ficava o "arquivo oficial" (...) Este aglomerado de edifícios oficiais era cercado, a norte e a sul, por residências privadas, oficinas, estúdios de escultores, etc.
Baines também esclarece que no chamado arquivo oficial foi descoberta, em 1887, a correspondência diplomática em escrita cuneiforme trocada entre Amenófis III (c. 1391 a 1353 a.C.), Akhenaton (c. 1353 a 1335 a.C.) e Tutankhamon (c. 1333 a 1323 a.C.) e os soberanos da Palestina, Síria, Mesopotâmia e Ásia Menor. Esclarece, ainda, que muitas das residências da cidade revelaram os nomes de seus proprietários, através de elementos arquitetônicos inscritos encontrados durante as escavações. Foi o caso, por exemplo, da casa do escultor Tutmose e a do vizir Nakht. Na moradia do escultor foi achado o famoso busto de Nefertiti, que vemos ao lado, entre outras obras-primas. Baines prossegue:
Próximo da extremidade da baía de Tell el-Amarna encontrava-se o Maru-Aton, grupo de edifícios que compreendia também um lago, um quiosque numa ilha e canteiros de flores, decorado com pavimentos pintados. No extremo norte da baía estava o "Palácio do Norte", que é talvez mais uma residência real.
Nem todos os edifícios tiveram suas finalidades descobertas pelos arqueólogos. Por outro lado, os túmulos cavados nos rochedos que cercam a planície e pertencentes aos funcionários da administração são assim descritos pelo autor:
Os túmulos formam dois grandes grupos e obedecem a um plano semelhante ao dos túmulos tebanos da XVIII dinastia (c. 1550 a 1307 a.C.): (1) um pátio exterior, (2) e (3) uma sala comprida e uma sala larga, ambas, por vezes, com colunas e (4) um nicho para estátua. A decoração era em baixo-relevo.
Aproximadamente 15 anos depois de ter sido fundada a cidade foi abandonada, seus restos foram cuidadosamente desmantelados e parte do material foi usado em outras construções, como em pilones do templo de Karnak. Um pilone da época de Ramsés II (c. 1290 a 1224 a.C.) descoberto em Hermópolis, entre 1929 e 1939, revelou em seus alicerces mais de 1500 blocos provenientes de templos desmantelados da cidade de Akhenaton. Hoje, embora tenha sido fonte de inúmeras obras de arte, quase não há edifícios em pé na localidade. No alto desta página, restos de coluna de um pequeno templo dedicado a Aton.
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